“Mulheres pela Vida” estimula doação de sangue
- Edna Sampaio
- 19 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de mai. de 2021

Por: Neusa Baptista Pinto
Foi estendido até o dia 31 de maio o prazo para as mulheres interessadas em serem doadoras da campanha realizada pelo II Encontro Mulheres pela Vida, que este ano teve com o lema a frase “Mulheres que se doam”.
Mais de 100 pessoas participaram do encontro, que aconteceu na modalidade on-line, entre os dias 15 e 19 de maio, com uma programação de palestras organizada pela musicista Josi Crispim em parceria com o Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (PPGECCO/UFMT) e o MT Hemocentro.
Neste ano, a partir da participação das professoras Maristela Carneiro e Aline Wendpap, do PPGECCO, a universidade auxilia na realização do evento.
O sangue derramado de mulheres vítimas de violência é tomado como símbolo de resistência e solidariedade.

Como doar?
As doações acontecem na sede do MT Hemocentro, na região central de Cuiabá. O agendamento pode ser feito das 7h30 às 17h30 pelos telefones (65) 3623-0044 e (65) 98433-0624 (Whatsapp) ou no site www.mthemocentro.saude.mt.gov.br
Como foi o evento?
No dia 18, foi realizado o webinário “As dificuldades de acesso às ferramentas de proteção às mulheres vítimas de violência”, com a presença de Ana Eliza Lucinaldo, pesquisadora; Gonçalina Eva de Almeida Santana, vice-presidente da Associação Quilombola de Mata Cavalo; Lígia Viana, da Secretaria de Mulheres do PT; professora doutora Maristela Carneiro, coordenadora do PPGECCO e Tina Maria Ramos dos Santos, do Fórum de Mulheres Negras de Mato Grosso.

Entre as participantes, estava a líder indígena Tuinaki Koixaru Karajá, turismóloga e artesã. Integrante de um coletivo de mulheres, ela falou sobre o crescimento da violência e de relacionamentos abusivos na etnia, citou o registro de feminicídios entre indígenas, e o trabalho de conscientização que está sendo realizado com as mulheres locais, o qual ainda é muito difícil, por se tratar de um tema de difícil abordagem entre os indígenas.
A vereadora Edna Sampaio foi uma das palestrantes nesta sexta (19), durante o webinário “As ferramentas de proteção às mulheres vítimas da violência”, que contou com abertura feita pela cantora Vera Capilé e a participação da advogada Bárbara Lenza, líder do Comitê de Combate à Violência contra Mulher do Grupo de Mulheres do Brasil.
Também estiveram presentes a Dra. Jozirlethe Criveletto, delegada responsável pela Delegacia Especializada da Mulher, a Dra. Rosana Leite, defensora pública, a educadora Elis Regina Prates representando a Secretaria Municipal da Mulher, Gian Carla Zanela, diretora geral do MT Hemocentro, a vereadora Michelly Alencar e a deputada federal, Rosa Neide.
Uma das participantes, a procuradora Sazenazy Soares Rocha Daufenbach, do Ministério Público Estadual, enfatizou a urgência de efetivar normativas já existentes sobre a discussão da questão de gênero e da violência contra a mulher, as quais nem sempre são do conhecimento público. E salientou a importância de que as leis nasçam da demanda dos movimentos sociais, que nem sempre são consultados.
“Quais são os reflexos disso? Estamos criando leis que não vêm de onde a lei Maria da Penha veio. Ela veio dos movimentos sociais, das convenções internacionais de proteção às mulheres, veio do povo e não de gabinetes”, opinou ela.
Também salientou a necessidade de políticas específicas, diante da heterogeneidade do estado. “Precisamos ter uma política estadual de rede e uma política municipal, porque estamos em um estado continental, com populações com características diferentes; há municípios que têm menos pessoas nascidas aqui do que de outros estados”, disse ela.
“Isso, inclusive, dificulta uma política linear, mas precisamos de uma política linear de proteção. E cada município tem uma responsabilidade porque a violência doméstica é uma questão de saúde básica”, comentou.
A vereadora Edna Sampaio lembrou que a violência contra a mulher pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles o biológico, que, historicamente, delimitou maior força a homens do que a mulheres, estabelecendo o domínio físico.
No âmbito cultural, a sociedade legitimou essa dominação, ainda que a força física não conte mais como critério de distribuição de poder. Diante da opressão social, mesmo tendo desenvolvido maior inteligência, a mulher ainda enfrenta a subordinação.
“Não estamos numa sociedade onde a força é definidora do poder, mas numa sociedade onde o conhecimento e a capacidade intelectual são definidores do poder, no entanto, as mulheres não o têm”, disse ela. “O problema da desigualdade de gênero, que gera violência, diz respeito ao poder baseado na força e no poder que essa força deu ao homem para controlar os meios de fruição da cultura”.
Para a vereadora, não é possível discutir o problema exclusivamente do ponto de vista das políticas públicas, pois elas já são, por si mesmas, o resultado da correlação de forças. “A questão é: por que faltam recursos, meios para promover as políticas públicas que possam salvar a vida das mulheres, dar as elas condições plenas de cidadania? Porque as mulheres não estão no poder, esse é o fator fundamental”.
O evento contou com depoimentos emocionados sobre situações de preconceito sofridas no cotidiano, entre eles o da professora Aline, que narrou a experiência pessoal do filho, vítima bullying na escola por defender direitos de negros e de homossexuais. “A gente que estuda, pesquisa e vai tentando formar estas novas gerações tem uma luta diária, é pelo gesto você vai ensinando seu filho a não ser preconceituoso com quem é diferente; talvez não vejamos esta mudança, mas temos que continuar semeando, regando nossas tamareiras”, disse ela.

“A avaliação é positiva; o objetivo do evento foi estimular entre as mulheres o conceito de sororidade, que algumas não conheciam. Muitas das participantes se disseram satisfeitas e contempladas por que foi trabalhado o conceito de violência”, disse Josi Crispim.
Ela se disse feliz também pela parceria com a UFMT, que emitirá os certificados. “Isso não é um preciosismo, mas uma forma de proporcionar a estas mulheres autonomia, permitindo que possam contar pontos em seu currículo”.
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